quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Admirável Deus



Esse texto foi escrito em dezembro de 2008 após uma viagem missionária a Bolívia. Que você possa lê-lo e pensar um pouco mais sobre esse admirável Deus!

Admirável Deus

 Era uma noite fria, com fortes ventos e promessa de chuva no ar. As montanhas estavam ao nosso redor demonstrando sua força e sua beleza. Os relâmpagos cortavam o céu. As pessoas foram chegando, campesinos que caminharam até 3 horas por entre as montanhas, mulheres com longas tranças negras e com suas crianças amarradas as costas por panos coloridos, homens magros e fortes de poncho e chapéu. Chegaram cansados e suados após o esforço de um dia inteiro de trabalho em suas casas e lavouras.

Eles chegaram aos poucos, devagarzinho, com vergonha de entrarem na sala onde o filme Jesus em quéchua seria projetado. Eu não esperava tanta gente, daqui a pouco não havia mais cadeiras e muitos ficaram em pé.

Sentei-me bem no fundo da sala. Queria ver as reações daquelas pessoas, queria observar como reagiriam diante da novidade de assistir um filme pela primeira vez. Sim! Em pleno século 21, ainda existiam pessoas como aquelas, que nunca viram um filme em suas vidas.

As crianças ocuparam as primeiras cadeiras e tanto elas quanto os adultos ficaram extasiadas com as imagens e com os sons. Elas não apenas assistiam o filme, elas participavam junto com ele. Cada imagem, cada som, cada mudança de cena, significava algo novo e surpreendente.

Fiquei encantada ao vê-los se espantarem e ficarem maravilhados com os milagres de Jesus, cada um deles emitia um oh! de espanto e admiração, e ao verem a famosa cena de Jesus mandando Pedro lançar a rede para o outro lado do barco, em busca dos peixes que em vão não conseguira pescar após uma noite inteira de trabalho, e ver as redes voltarem cheias de peixes que se debatiam tentando escapar, eles riam, cheios de admiração e gozo e cochichavam uns com os outros. Era como se estivessem assistindo a uma superprodução holiwoodiana em que o super-herói faz mais uma grande façanha.

 Ali, naquela noite fria com a chuva que ameaçava cair lá fora, eu me senti muito agradecida a Deus pela oportunidade de presenciar aquele momento único e especial. Só uma palavra vinha a minha mente naquele momento, PRIVILÉGIO. Sim, eu me senti privilegiada por estar ali e por de alguma forma proporcionar aquele povo esse momento.

 Eu fiquei pensando, no quanto nós cristãos ocidentais, modernos, urbanos, antenados e globalizados, nos esquecemos das coisas simples e importantes da vida. Aquele povo, aqueles campesinos bolivianos, moradores das montanhas, sem água encanada, energia elétrica, internet e todos os meios de conforto que nós temos, me ensinaram uma bela e forte lição. Eles conseguiam ver a beleza excepcional que há na pessoa de Jesus, eles olhavam para Ele maravilhados, seus milagres eram impressionantes e diante do momento de seu sofrimento e crucificação eles ficaram calados, mudos, respeitando aquele profundo momento de dor e ficaram impressionados com a sua ressurreição.

Eu pensei, meu Deus, essas coisas se tornaram tão banais para nós. São repetidas domingo após domingo em nossas igrejas. Nos acostumamos tanto com essas verdades profundas e preciosas, e quando lemos a Bíblia ou assistimos filmes como esse não ficamos mais encantados e impressionados. Não conseguimos olhar para Jesus com olhos de espanto e admiração, não conseguimos ver a grandiosidade e a beleza em seus gestos e ações, não conseguimos enxergar a sua pessoa, o seu amor e o que Ele fez e ainda faz por nós todos os dias.

Quando o filme acabou, aquelas pessoas não se levantaram, continuaram sentadas, esperando. Eu não entendia, achei que assim que acabasse eles se levantariam rapidamente e iriam embora, como nós fazemos depois de uma sessão de cinema. Não, eles continuaram lá, esperando, até que entendemos que eles queriam assistir o filme novamente. E assistiram de novo, mais duas horas, e riam, e se espantavam, e ficaram maravilhados de novo, como se um novo filme estivesse passando diante de seus olhos.

 Quando finalmente acabou, e eles se levantaram e foram embora, eu tive a nítida sensação que eu aprendi grandes verdades através daquele povo. Eu, que ali fora, para compartilhar com eles sobre o amor de Deus, encarnado na pessoa de Jesus, sai daquela sala com o coração apertado cheio de gratidão a Deus, mas ao mesmo tempo envergonhada por muitas vezes ter esquecido o quão maravilhoso, surpreendente e poderoso é o nosso Deus e digno é de toda admiração e louvor.

 Senhor, que nós possamos olhar para Ti com olhos cheios de admiração, temor e amor. Que possamos entender que tu és por demais precioso e único para que passemos cada dia de nossas vidas sem darmos a ti a devida e merecida atenção. Senhor dá-nos olhos simples, admiradores que vejam a beleza única que há em ti.

 Sonilde Duarte dos S. Wanderley





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